segunda-feira, 28 de março de 2011

Coberta

É permitido um sorriso por face
Disfarce depressa sua mesmice aguda
Acuda você de você
e se desprenda do espelho
Deixe desse papo igual
Tal qual o escuro da tua pessoa
Tua velhice é prematura
e nada é permitido pra sempre
Sobreviva dos dias comuns
Desta forma,
se o sol nascer,
seus olhos não estarão fechados!

(Dja Vasconcelos)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Lembrete

Diga a todos os meus amigos
Que o destino emperrou
O olho lacrimejou
Pelos pedaços fincados na
lembrança

Diga que o meu filho
fala poemas
Quando anoitece, pra ele,
o sol foi dormir e a lua acordou

Diga que a memória machuca
e molha a face já enrugada
pelo ir

Diga que eu lembro deles
Que ainda jogo bola e o campo está
repleto com todos, sem exceção
Que ouço a gargalhada de cada um

Pode dizer que eu ainda ando descalço
Que tomo banho de chuva, pego
tanajura e gosto da noite

Diga que o tempo não tirou da cabeça
a felicidade de outrora:
o totó, o riacho, o canal...

Diga que ainda escuto
Sapato velho, Acontecência,
Rua Ramalhete...
e continuo tocando violão

Diga que isso, também, me mantém vivo
Não esqueça de dizer que a distância causa medo:
Medo de não ver, conversar, abraçar...

Diga que somos irmãos de época
Somos cúmplices do que tínhamos
No nosso mundo pequeno.
Mesmo assim,
éramos coletivo, portanto graúdos
não lembrávamos do adeus,
nem o amanhã causava medo
e nossa casa era o coração

Diga que esse homem é um menino,
moleque, miúdo e sonhador
que ainda sente o cheira da mata-fome
e do perfume da garota que todos nós gostávamos
mas não sabíamos o que dizer pra ela

Diga que o sabor do primeira beijo
na primeira namorada não desgastou
e que eles sabem de quem eu falo,
pois compartilhávamos a vida

Sabe, diga só mais uma coisa.
Eu ainda chamo todos pelo apelido.

(Dja Vasconcelos)