domingo, 3 de abril de 2011

Religar

No silêncio, ouço o barulho da mente
Quero entender as falas,
Identificar os sons distraídos
E pervertê-los a meu modo

Substantivo abstrato agregado a índole
Leva-me a dançar em ritmos diferentes
Aproxima cada batida ao movimento
Desqualifica o prosaico e rejuvenesce
o cotidiano.

Ouço o real agonizando
Flexiono o mar. É possível!
Desmancho o escuro pálido
E continuo andando...

(Marta Moraes e Dja Vasconcelos)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

SÓ UM SOM

Minha saudade estä dentro de mim
Como um corpo querendo o mesmo espaço
Minha saudade estä dentro de um poema que o
Poema não escreve
A saudade e o poema estão dentro de mim
A saudade do poema estä em mim
Há saudade no poema que não escrevi
Do poema à saudade existe você em mim
O grito do poema faz a saudade existir
O silêncio da saudade deixa um poema em mim

Silencio o poema, grito com a saudade!
Espero que os dois deixem-me aqui.

Há um turbilhão de palavras embolando
Só uma me persegue (saudade)
Transfigurada, atordoada, magoada!
Mágua na água de um mar só
Sem sal, nem peixes, nem plantas...
Centauros, minotauros, dragões!
Bichos que não se doma
A saudade que os coma

(Dja Vasconcelos)

Aleivosia

UM CORPO SE PRENDE
NO VAGO DA MEMÓRIA.
UMA CABEÇA TORTA
GUARDA NUM CUBÍCULO
TRAÇOS DE FOTOS MORTAS
UM BRAÇO PROCURA OUTRO
DE UNHAS PINTADAS
UMA MÃO ACENA EM VÃO
ESPERANDO UM ACENO.
UM TINO, UM DESATINO...
DESESPERAR A DOR MORTA
NUMA CADEIRA SEM TRONO,
SEM DONO, SEM HERDA!
CANSA A ESPERA FADADA.
UMA GAVETA FECHADA
COM CHAVES PENDURADAS,
PARADAS, NIMGUÉM TOCOU-AS!
UM SAPATO VELHO, SURRADO,
GUARDADO NUMA CAMA SEM PÉS,
SEM CALOR, SEM CORPO, SEM PAR...
SOU FRAUDE DE MIM MESMO
ENGANO DO VAZIO MORTAL

( Dja Vasconcelos)

Conclusão

Vesti minha camisa
Porquanto minha?
A camisa é dela
Ela é a camisa
Ela tem bolso
Tem casas
Tem mangas
Sem manga
Esconde, protege,
Enfeita
Tem listras
Botões, sem rosas
cem rosas estampadas
toma banho, toma sol
tem estrelas, arrebol

mas, a camisa não tem cor
a cor está na camisa,
com seus nomes
azul, verde, vermelho...

A camisa desbotou
A cor a deixou

(Dja Vasconcelos)

ARTÉFATO

a arte===é um----- poema
um quadro uma peça
um romance umas fotos
a arte é una casa
toda colorida sem teto
pra se olhar pro céu claro


na arte serei o que quiser


vagando nos desmandos da
minha mente
a arte não é doente mesquinha
não esta pronta e acabada
não é fechadura à cabeça
a arte não passa
A vida não------------------------------------------

(Dja Vascocelos)

Nova

Sou o som diferente
Alegre e em comoção
Abasteço o sonho
E a emoção

Sou singular,
Transparente
Límpida aos ouvidos
Atentos

Sou amiga dos poetas
Abraço a palavra
Com todo carinho
Sem coação de rima

Ando por dentro do ser
Flagelo a tristeza
Arranho as paredes lisas
Com a melodia florada

Agora sou,
O que o tempo não
Apaga!
( Dja Vasconcelos)

CONCORDATAS

Rasgo teus versos, que fiz.
Acho números e datas
Perco-me em noites viradas,
Concordatas que o silêncio tem.
Abro casas, janelas, portas,
Minha cabeça, minha alma!
Procurando onde desaguar,
Abrandar os zumbidos da noite.

Rasgo tuas fotos que ris
São suas parcas cores
Num labirinto de dores
Caminhos cinzentos, gris!

As rugas que se tornam
Invisíveis quanto à dor
É revés da palavra amor.
Sem enfeites que as formam

A desordem no que sinto
Vem do peso que o olho ver
Sem a estesia de te ter
Nos poemas, quando minto.

Idas e vindas na noite
É um ato sem glória
Um hospício à memória
Como fuga pro açoite
(Dja Vasconcelos)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Coberta

É permitido um sorriso por face
Disfarce depressa sua mesmice aguda
Acuda você de você
e se desprenda do espelho
Deixe desse papo igual
Tal qual o escuro da tua pessoa
Tua velhice é prematura
e nada é permitido pra sempre
Sobreviva dos dias comuns
Desta forma,
se o sol nascer,
seus olhos não estarão fechados!

(Dja Vasconcelos)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Lembrete

Diga a todos os meus amigos
Que o destino emperrou
O olho lacrimejou
Pelos pedaços fincados na
lembrança

Diga que o meu filho
fala poemas
Quando anoitece, pra ele,
o sol foi dormir e a lua acordou

Diga que a memória machuca
e molha a face já enrugada
pelo ir

Diga que eu lembro deles
Que ainda jogo bola e o campo está
repleto com todos, sem exceção
Que ouço a gargalhada de cada um

Pode dizer que eu ainda ando descalço
Que tomo banho de chuva, pego
tanajura e gosto da noite

Diga que o tempo não tirou da cabeça
a felicidade de outrora:
o totó, o riacho, o canal...

Diga que ainda escuto
Sapato velho, Acontecência,
Rua Ramalhete...
e continuo tocando violão

Diga que isso, também, me mantém vivo
Não esqueça de dizer que a distância causa medo:
Medo de não ver, conversar, abraçar...

Diga que somos irmãos de época
Somos cúmplices do que tínhamos
No nosso mundo pequeno.
Mesmo assim,
éramos coletivo, portanto graúdos
não lembrávamos do adeus,
nem o amanhã causava medo
e nossa casa era o coração

Diga que esse homem é um menino,
moleque, miúdo e sonhador
que ainda sente o cheira da mata-fome
e do perfume da garota que todos nós gostávamos
mas não sabíamos o que dizer pra ela

Diga que o sabor do primeira beijo
na primeira namorada não desgastou
e que eles sabem de quem eu falo,
pois compartilhávamos a vida

Sabe, diga só mais uma coisa.
Eu ainda chamo todos pelo apelido.

(Dja Vasconcelos)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

OUTRA VIA

O rumo que meus olhos seguem
Leva-me pro infinito
Onde busco a minha canção
Uso pincéis, pinto quadros,
Escrevo versos, moldo barro...
E faço a minha canção
Alimento-me desses momentos
mágicos
E não sinto indigestão.
Faço uso do que chamam saudade
E sinto saudade do que ainda não fiz.
Sou da canção sem fronteiras
Escuto música com louvação.
Essa loucura me faz são,
Dando-me outras portas a abrir.
Percorro dentro de mim
Todas essas portas
Com um barulho profundo
Inquietando um labirinto de idéias
É como descobrir a quântica
E formar um mosaico terno
De palavras doces e salgadas
Não há rugas na poesia cantada,
São jovens, de pele lisa, querendo viver.
Nos meus olhos, tudo que canto vivo.
Tudo que quero é passado
Do que vou saber.
(DJA VASCONCELOS)

ESTORVO

Casa escura
Calabouço
É Lá,
É Lá a involução,
Patriazinha!
Seus cofres guardam tesouros
INTERMINÁVEIS!
Enquanto EU como a fome
( companheira diária)
E a fome come o medo
Alimenta o desespero
E o desumano.
Patriazinha,
De qual fome queres saber?
Quem te rouba, diminuta mãe,
Não sou eu!

(Dja Vasconcelos)

Ao portuga

A casa tem som de “Z”
Porque, são vários,
Com o mesmo sentido.
O “Ç” pode ser esse.
O "S” pode ser cedilha
A frase pode ser má escrita,
Porem é sentida.
E o que vigora?
X, S ou Ç.
Meros fragmentos
De um texto bem escrito,
Mesmo que não diga nada.
G ou J, qual deles importa?
O jogo tem os dois.
A língua é uma puta
Na boca de todos
É vivida

(Dja Vasconcelos)

Criar

Um passo descanso
Movimentos tênues
Vidas incursão
Sem pressa
Observar com melhor
Definição
Explosão!
Confusão de gêneses
Espermatozóides vivos
Um casamento
Um óvulo
Vida de outras vias
Pulso coração
Pulsação viva
Vida aparição
Luz claridade
Átomos gestantes
Atomicidade molecular
Criação,
Vida guardada
Gestação
Vida parir vida
Superação
Vida explodida
Orvalho rosas
Abelhas
Polimerização
Guarde a vida
Guardada
No corpo
Introdução.

(Dja Vasconcelos)

Repúdio

Assombrados pelos olhos
Os versos me desampararam
Rápidos e sem destino
Vociferaram em silêncio
Tudo que permeava
O pálido lugar vazio

(Dja Vasconcelos)